terça-feira, 7 de agosto de 2012

 É dificil assumir, quando na verdade não sei nada e nem sei se estou assumindo algo, mas eu assumo que me encontrei ou não no nada... 

Lendo Manoel de Barros,  um trecho de "Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada"  de "O Guardador de Águas"


I
Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.

II
Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas.

III
Chove torto no vão das árvores.
Chove nos pássaros e nas pedras.
O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.
Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.
Crianças fugindo das águas
Se esconderam na casa.

Baratas passeiam nas formas de bolo...

A casa tem um dono em letras.

Agora ele está pensando -

no silêncio Iíquido
com que as águas escurecem as pedras...

Um tordo avisou que é março

(...)

 

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Diário de bordo

04 de Agosto

18:00 -  saída, pegou carona e trocou de estado
22:00 - chegada
23:00 - segunda chegada
23:30 - um som, uma notícia ruim, mudança de planos, ela sozinha, uma múscia, sono, dormir.

05 de agosto
06:45 - acorda, vai para o outro lado do mundo
08:00 - Freud, Jung, símbolos, sígnos, mais Jung e Jung na poesia, na foto, na pintura, no livro, na puta que pariu...
13:00 - Piaget, Vigotsky entre outros... no construvismo um cochilo, uma brincadeira, uma zueira, alguém que mora longe, longe de todas as discussões, longe de todas as pessoas, longe daquele lugar, daquela cidade que não pertencia a ela, que estava lá sem estar.
17:00 - Uma praça sem muros, uma praça liberta, uma praça amiga, nova, bonita, limpa. Pessoas mais que amigas, que preenchem o vazio, que te dá um sorriso de presente, um abraço gostoso, um carinho amigo e uma conversa de lágrimas acompanhada de olhos apaixonados.
19:00 - Augusta, cerveja, um pescador bom, gentil e cavalheiro.
21:00 - "A Doença da Morte"  homem, muher, noite azul e amor avermelhado. Ela sempre teve vontade de juntar todas as suas lágrimas em um copo americano, naquela noite de sábado ela viu lágrimas em um repiente, derramadas em outros recipientes. Assim como as dela que não estando reunidas em um recipiente são derramadas por ai, sem voz e sem vida. Ali seu corpo paralisou, ela só ouvia, gozava com palavras e chorava a solidão, convidava o homicídio, ouvia um mar que era negro. Com corpo imóvel escreveu no ar as seguintes palavras que até hoje não foram apagadas "você pôde viver esse amor do único jeito que lhe era possível,  perdendo-o antes que ele acontecesse".
22:00 - Um abraço em um conterrâneo, uma subida pela Augusta, hippies, rockeiros, descolados, cabelos rosas, calças largas, skatistas, undergrounds, cultos, camelôs, familías, mendigos, loucos, perfume, fumaça, cigarro, desvio.
23:00 - Conversas entre conterrâneos, bobeiras, cambalhotas, riso de criança.

06 de agosto
07:30 - acorda e vai para o outro lado do mundo dirigindo o metrô.
09:00 - voz e imagem do som.
13:00 - imaginário, imagina, Brasil
17:00 - Na Augusta novamente, ansiedade, um LA, mais ansiedade, um LA entregue na mão de um estranho, ansiedade, frio, outro LA.
18:00 - Saída
22:00 - Chegada