quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Pessoas são músicas


Eu nunca postei uma mensagem, acho mensagem uma chatice, coisa de final de ano de escola... mas vou postar uma mesagem que li em 2002 e que ficou guardada em meio às "lembranças escritas de um caderno".

Pessoas são músicas, você já percebeu ???
Elas entram na vida da gente e deixam sinais.
Como a sonoridade do vento ao final da tarde.
Como os ataques de guitarras e metais presentes em cada clarão da manhã.
Olhe para uma pessoa e você vai descobrir, olhando fundo, que há uma melodia brilhando no disco do olhar. Procure escutar.
Pessoas foram compostas para serem ouvidas, sentidas, e interpretadas.
Para tocarem nossas vidas com a mesma força do instante em que foram criadas e para tocarem suas vidas com toda essa magia de serem músicas.
Existem pessoas que terei  o prazer de continuar ouvindo.
As pessoas tem que fazer o sucesse que lhes desejamos
Mesmo que não estejam nas paradas.
Mesmo que não toquem no rádio.
Apenas no coração. 


Memória olfativa

O prazer da quinta-feira está no lago.
É ao seu redor que é possível respirar.
Pisar nas pedras é o mesmo que andar em plumas e o ar frio refresca todos os órgãos.
Ao redor do lago tem um lua, uma fonte, uma luz e uma mulher.
Uma mulher que de olhos fechados sente toda a energia de todos os seres vivos que exalam seus odores ali.

A cada passo, um cheiro.
A cada cheiro, uma lembrança.

O cheiro de mato, cheiro de terra, cheiro de peixe, cheiro de "Dama da Noite", cheiro de vaca, cheiro de bosta, cheiro de eucalipto... esses eram os únicos que ela conseguia identificar.


Entrou em desespero pois para cada inspiração de ar um novo cheiro e uma lembrança pela metade, era o odor do quê? Ela não sabia. Tentava lembrar da onde e do que eram aqueles cheiros, mas não conseguia... só sabia, que já os havia sentido alguma vez em sua vida.

Foi uma decepção, esquecer algo que é lembrado e sentir algo esquecido.

Parou, fechou os olhos e começou a inspirar e guardar todos aqueles cheiros que apareciam ali, na sede de que nunca mais fossem esquecidos.

Abriu os olhos, olhou para o reflexo da lua e desejou não esquecer nada daquele momento, a imagem de um céu noturno refletido na água, o som dos animais, o vento gelado no rosto, a textura do chão, o gosto do ar e o cheiro daquele lugar.


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

um caderno... uma lembrança

Ela acorda com muita dor na panturrilha, abdomen, pescoço e sem voz. Dores sentidas com prazer de uma noite de lembraças.

"Hoje é o dia, eu quase posso tocar o silêncio... meu caminho é cada manhã, não procure saber onde estou... que país é esse... um passo sem pensar...we will, we will rock you"

Ela ouviu e naquela noite se lembrou...

Lembrou de quando estava no colegial e que usar All Star preto e sujo era um máximo. Paquerava meninos de cabelo grande, andava com uma corrente na cintura, amarrava um moleton pra baixo da cintura e pintava as unhas de preto, isso tudo duraria para sempre...

Tudo girava me torno de uma rebeldia sem causa, matar aula, tirar nota vermelha, ganhar um termo de compromisso, bater a porta do quarto e brigar com a mãe era um máximo.

Tudo ia no embalo dos rocks preferidos, na parede tinha o pôster do Kurt Cobain, Bruce Dicknson, Axel Rose e Pink floyd. A música era sua forma de expressão. No toca fitas, pausava cada trecho para copiar a letra no precioso caderno de músicas, era um máximo ter um caderno de músicas, tinha até uma competição de quem escrevia mais músicas. "Faroeste Cabloco" era copiado em todos os cadernos, decorar "Faroeste Cabloco" era um máximo. 

É nesse caderno que aparece cada fase da vida dela, cada músca copiada a lembrança de uma pessoa, um sentimento, uma conquista, um amor, uma amiga e um breve futuro.

Cantar "Que país é esse", salvaria o Brasil, chorar por "Índios" e celebrar a paz era emocionante. "Dinho ouro Preto" era o cara mais lindo na época e namorar alguém que tivesse uma banda de rock era um máximo.
A gente nem precisava ir a shows, nem de cds, vídeo do youtube, dvd, letras online, foto do google, site oficial, twitcan, curtir no face, seguir no twitter... um caderno de músicas era suficiente. Cantar já era liberdade! A essência daqueles dias estava na cópia a mão de uma música, estava no andar de mãos dadas com ele, na fita casset, nos primeiros beijos, na primeira vez, na primeira relação, nas mehores amigas, no destino incerto, na incerteza bem vinda, na despreocupação com o futuro, na busca pela independência, no primeiro amor e nos "Primeiros erros".


 







"Se um dia eu pudesse ver... meu passado inteiro"


Janela


Ela chega em casa, come, dorme, levanta e sai.
A mãe liga, o pai chama e avó avisa que o almoço está pronto.
-O almoço está pronto.
-Fica com Deus mãe.
-Tchau pai.
É segunda, terça, quarta, quinta e sexta.
No sábado ela chega dorme, dorme e dorme
Na outro dia ela chega e procura. 
Perdida entre os cômodos da casa, andando pelo corredor que agora é infinito, abrindo e fechando as sete portas dos seus sete cômodos, suas sete moradas, ela não dorme, não levanta e não consegue sair. 
Na busca incessante de algo que não sabe o que é, o peito fica apertado mas ela não sabe porquê, no tédio, na ansiedade, no corpo mole, nas mãos bobas, nos olhos ardentes e no paladar desgostoso ela cai.
Olha pra cima e as paredes vão chegando cada vez mais perto, o colchão mais duro, a porta não abre e o chão se torna mais gelado.
Ela não consegue enxergar as cores do azulejo da cozinha, guarda a manteiga no armário e o garfo na geladeira.
O latido de sua cadela se tornou trilha sonora para as tentativas incansáveis de dormir. O sono é constante e a voz do apresentador de TV leva a depressão, daquele dia perdido entre os cômodos e o labirinto daquela casa, mal iluminada branca e sem cheiro.
Ela anda pelo banheiro sente o frio da água, defeca, sente nojo, limpa, olha para as fotos na parede do corredor e a frente se vê no espelho, do espelho do corredor algo a assombra, algo a  persegue . 
No espelho as vezes tem uma sombra, a silhueta de uma mulher em um dia de espera. Um dia de ressaca, um dia de cansaço, um dia de fome, um dia vazio, um dia frio, um dia chato, um dia lento, um dia sem dia, um dia que ainda vai acabar.
Espera algo que não sabe o que é, engole a seco, tenta tirar o nó apertado da garganta e chora.
No sofá lembra dos amores, das noites quentes, sente um beijo, beija, assiste e espera.
Ela poderia ter feito faxina, arrumado o guarda-roupa, lavado a louça, feito as unhas mas ela prefere esperar.
Não atende a mãe não fala com o pai e não almoça, ela espera.
Na espera e foi na Praça do Cemitério em dias de velório, que ela conheceu a plenitude do silêncio. Ela via vida e morte todos os dias, no mesmo dia e na mesma hora. Ela respira o silêncio da morte, o sol se vai, o sino do cemitério toca, o cheiro de vela aparece e da garagem de casa ela vê as almas passarem para o outro lado da rua. Ela é silêncio. E no silêncio? O que aconteceria? 
foi então que ela preferiu abrir as janelas, ela abriu todas as janelas para que todos os insetos entrassem..