segunda-feira, 20 de agosto de 2012

dorme...

Não!
Para!
Por favor!
Eu queria um grande amor!
Não!
A novela vai começar!
Para!
Metade da minha face está dormente!
Por favor...
Hoje eu perdi um dente.
Não!
Ontem perdemos alguém.
Para.
Vai começar uma novela com grandes amores.
Por favor?
Eu já não sinto mais meus pés.
Não?
Está começando a doer...
Para...
Fome.
Não!
Mais uma dose.
Por favor...
um sorvete?
Não!
Um copo de água
Para?
Copo americando sujo de bar
Não!
Um sorriso?
Por favor...
Não!
Anestesia geral.

Corredor

No corredor da casa dela o tempo era mais longo, quando precisava atravessar aquelas duas paredes longas, ela tremia, alguns calafrios subiam por seu corpo... então os outros apareciam.

Eles esperavam ela ficar sozinha para chegar, esperavam o Wisnik começar a cantar e invadiam com toda a frieza o corredor da casa dela.

Quando as luzes se acendiam rapidamente eles se escondiam no espelho, do espelho observavam cada passo dela que pisava silenciosamente no piso que ficava cada vez mais gelado. O silêncio cortava cada pelo de seus braços, entrava em  seu cabelo e puxava cada fio para dentro espelho. Os fios eram como cordas, segurando neles os outros eram puxados para fora do espelho e podiam assoprar os segredos mais perdidos que existiam entre mulheres.

O medo negro enfestava o corpo da garota que ali corria e gritava mudamente por um pouco de luz e sanidade.

O problema, é que quanto mais medo ela sentia, mais ela queria ficar naquele mundo. Preferia a escuridão do que a real imagem que via na luz do sol, um mundo mais negro que o negro do lápis preto, que o preto da cortina do teatro, que o petro de um linóleo, que o preto de sua mochila preta, que o preto da parede preta do quarto do seu pai e mais preto que o preto que seus olhos fechados podiam ver...

Foi quando ela fechou todas as portas e eles voltaram para dentro do espelho, algumas lágrimas, imagens desfocadas e a única coisa que restou foi uma garota e um lençol branco no canto de um quarto de paredes brancas com as pernas encolhidas e a cabeça entre os joelhos.

Aos poucos o lençol caia sobre sua cabeça e cobria o nada...