Ao escrever
não posso fabricar como na pintura, quando fabrico artesanalmente uma cor. Mas estou tentando escrever-te com o
corpo todo, enviando uma seta que se finca no ponto tenro e nevrálgico da
palavra. Meu corpo incógnito te diz: dinossauros, ictiossauros e
plessiossauros, com sentido apenas auditivo,
sem que por isso se tornem palha seca, e sim úmida. Não pinto idéias, pinto o mais inatingível "para
sempre". Ou "para nunca", é o mesmo. Antes de mais nada, pinto pintura. E antes de mais
nada te escrevo dura escritura. Quero como poder pegar com a mão a
palavra. A palavra é objeto? E aos instantes
eu lhes tiro o sumo da fruta. Tenho que me destituir para alcançar cerne
e semente de vida. O instante é semente viva.
Clarice Lispector
Nenhum comentário:
Postar um comentário